O livro dele mesmo

Vou escrever um depoimento como se fosse um livro, ou o contrário, um livro como se fosse um depoimento, pra que leia (eu mesmo) e de risadas ( nessa hora você deve estar pensando pronto o menino está louco, acabou piorando) Mas não, não é uma carta de desabafo ou um pedido de desculpas, não vou me elogiar e nem me criticar. (Quem em sã consciência faria isso?)
Pois eu vou escrever algo sobre mim, ou varias linhas se eu quiser, vou escrever sobre o amor que tive, e o que sempre quis ter. Sobre as histórias que fiz, e as que contei a você. Sobre a união iludida (aquela que inventei) e a que não existe mais (aquela que deixei).
Eu vou falar como te amei, e que graças a Deus (se é que o bom Deus tem algo haver com isso) não te amo mais. Vou falar a verdade em dizer que nunca esqueci um amor caro como o dele.
Vou escrever sobre meu filho que ainda vou ter. (pode até com sonho isso parecer) Vou escrever como um dia serei pai. Por que um dia quero sentir as dores da paternidade (ou apenas a mãe tem direito de chorar e sofrer pelo leite derramado?).
Eu vou falar sobre meu abandono e como me adotaram (pais, amigos, e seu -ou meu- mais novo namorado).
Dizer sobre o sangue e as lágrimas que correram e que ainda correm pois o sangue não para, só que hoje as lágrimas não caem (e como disse nunca vi caindo dos seus olhos).
Sobre a falsidade ideológica (” mentir para o bem de todos”) e sobre falsidade cronológica (“já não te amava a muito, mas não não podia falar isso em teu rosto”). Falarei sobre amores e como eles eram amadores ( e como eu fui também).
Falarei sobre preocupação, e ambição. Vou falar das noites mal dormidas, da falta de sono e de novo sobre abandono. Vou falar sobre a minha biologia, e minhas manias. Vou falar dos meus sonhos perdidos e dos conquistados. Por culpa minha eu sei. (e eu que disse que não me acusaria – quem em sã consciência faria isso? Sim eu sei!)
Eu vou lançar uma pergunta, ou várias se eu quiser. E um dia quem sabe eu vou responder se eu lembrar. E falando de lembranças eu escrever de como vou sempre lembrar de um tempo nostálgico, e da solidão temporária que tive como um naufrago. Vou falar de uma voz dizendo que tenho tudo, (a irônica voz do tempo que me tinha me deixado em um silencio absoluto) e olhando para lado vendo apenas um vazio absurdo que hoje eu não vejo mais, e que se Deus quiser (se é que o bom Deus tem algo haver com isso) eu não vou ver mais, por que todos sabem - se é que alguém ainda não sabe – como sou fácil de esquecer. (de me esquecer)
Vou escrever sentado ao sofá, escutando Beatles, sobre o desmatamento do verde (como virou cinza, e como é triste que ele virá tão rápido) é claro também escreverei sobre a política e sobre teatro, sobre filósofos, sobre filmes e como alguns são chatos. Vou escrever sobre a minha ignorância ao seu lado (droga o que é isso? Como é fácil ficar calado), vou falar sobre a luta que temos que ter se quisermos vencer, vou falar sobre minha biologia (eu já disse isso logo acima) e sobre como entender algo que não se pode ver.
Eu vou falar nesse depoimento, nesse livro, nesse tormento, sobre eu e você, e sobre como eu sou você, e mais uma vez eu vou errar em dizer como é bom te amar, como nunca te amei, e como quero te amar. Em dizer que o tempo em que contava horas para sentir amor, ou abria um talão para ter valor foi o mesmo. (O conceito de “aprender e apenas ter” pra mim foi o mesmo.)
Vou falar como fui chutado, várias vezes, por uma amante, pelo alto falante! Na frente de todos, eu vou falar como fui insultado, ” ó coitado de mim, vitima de fato”. ( hora por favor sem drama ja passou, segue em frente seu tolo atras tem gente). E vai dizer que ainda pensa em mim? Olha agora como está feliz, sem a minha risada, sem nenhuma palhaçada.
Mas não estou aqui para escrever como fui o garoto feliz, infeliz, e sim sobre o depoimento do homem que hoje eu sou. E hoje eu vou dizer que estou bem, e que acabo de dizer que vou sair de todos os lutos. (mas é claro que…) Eu ainda vou chorar preocupado com você, que me deu a mão, e que é meu pão. Vou te olhar em uma cama e rezar esperando com fé você melhorar da doce doença que te fez piorar.
Eu vou ficar do lado de todos, e vou errar de novo enquanto o meu erro te fizer acertar. Vou sair do meu luto, e vou mudar para a primeira pessoa, “eu vou lutar.” (pelo o que é certo, ou incerto, constante como amor, triste como a dor). Eu sei que hoje, as coisas que passaram lá trás ficaram, e se um dia eu quiser viver esse meu momento nostálgico basta eu te olhar e sentir seu abraço apertado o meu arrepiado ainda tentando me acostumar com esse jeito estranho seu, ou meu. (Meu novo eu der ser).
Ainda que você não seja mais linda, de olhos verdes ou cabelos bem penteados, que seja todo delicado, ou que não seja todo perfumado, até por que não que eu sou a pessoa mais bonita, ( beleza, não é tudo na vida!) É uma questão de tempo eu te amar meu amigo, (foi assim que começaram as outras vezes).
Uma questão de tempo minha amada, mas sem contar as horas vou logo avisando, (da ultima vez que dei hora a um amor tudo acabou piorando, e o tempo acabou com tudo, sabe foi desgastando?)
Eu vou falar horas sobre como acreditar, se deixar enganar, e sobre desses dois, saber aproveitar. Ah eu vou escrever horas sobre tudo isso que falei pra mim mesmo. Quem sabe lance até um livro, um disco, mas isso só se eu quiser. E olha eu não espero vender um milhão de cópias não, quero apenas um para que possa me ouvir, e lembrar que um dia eu ainda vou escrever esse livro.
Enquanto isso vou te olhando de vagarzinho e decorando cada pintinha do seu rosto,( tudo de novo) fazendo um esboço (novo), vendo sua foto do meu lado quando ainda criança, te mimando, fazendo dança.
Vou me vendo em tudo isso e encarando que agora é crescer, que não existe mais eu e você e agora somos nós, por que preste bem atenção agora minha querida, eu sou você, e você sou eu.
O que antes era tudo hoje é nada, e que onde há nada, tem espaço pra tudo. Então no fim como disse certa vez ( eu, ou você): Sempre vou ter você ao meu lado. Mesmo que isso signifique coragem de estar sozinho. (ou com você. entende o trocadilho).
Por fim, é isso, um dia espero escrever esse livro.

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